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Ele nunca se dera conta de como o papel podia ser uma coisa tão bonita, jamais reparara que havia tantos tipos de papel, tantas cores, tantos odores gloriosos.
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...... Ganesh pôs-se a cheirar furtivamente os papéis e, fechando os olhos, passava a mão sobre eles, para melhor apreciar sua textura.
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...... Ganesh foi tomado pela paixão de fazer cadernos de anotações. Quando Leela reclamou ele disse: “Estou fazendo esses cadernos para deixar de reserva. Nunca se sabe. De repente posso precisar deles”. E tornou-se um connaisseur de odores papeleiros. Comentou com Beharry: “Sou capaz de dizer a idade de um livro só pelo cheiro”. Sempre afirmava que o livro que tinha melhor aroma era o dicionário de francês e inglês de Harrap, obra que ele havia comprado, conforme contou a Beharry, só para poder desfrutar-lhe o perfume.
Texto do livro: O massagista místico (V.S.Naipaul - Companhia das Letras)
Esta é uma história de um homem simples, o hindu Ganesh, que herdara do pai os conhecimentos da massagem. Com o passar do tempo, ele foi percebendo que gostava de escrever e acabou sendo um grande escritor de sua terra, vindo a ocupar cargos muito importantes.
Muitas vezes, a gente não se dá conta do cheiro das coisas que estão à nossa volta. Muitas vezes, gostamos de uma coisa e não achamos explicação. Eu pergunto: não será porque o cheiro nos atraiu, nos trouxe alguma lembrança?
Mesmo inconscientemente somos capazes de sentir os cheiros. Isto acontece porque o sentido do olfato não tem barreiras. O aroma vai direto para o nosso cérebro, sem pedir licença. E não podemos impedi-lo, não podemos detê-lo.
Se fecharmos os olhos, não veremos. Se taparmos os ouvidos, não ouviremos. Mas, se taparmos o nariz, para não sentir o cheiro, morreremos. O cheiro é inseparável do ato de respirar.

O olfato é o nosso sentido mais primitivo. Sutil e misterioso, está ligado diretamente à região do cérebro onde nascem nossas emoções, o sistema límbico – um assunto para outro dia...